terça-feira, 8 de outubro de 2019

APODI, DESTAQUE DO CSA, JÁ TRABALHOU QUEBRANDO PARALELEPÍPEDOS E SÓ DECOLOU POR BIKE DE R$ 60


Apodi, lateral-direito do CSA Gazeta Press

Apodi, do CSA, foi o lateral-direito que recebeu a maior pontuação do prêmio Prêmio ESPN Bola de Prata Sportingbet na 23ª rodada do Campeonato Brasileiro. Ele marcou um gol na vitória da equipe alagoana sobre o Avaí, neste domingo.

Quem vê o jogador mal consegue imaginar que a sua carreira só começou por causa de uma bicicleta vendida por R$ 60. 

 O lateral direito é conhecido pela velocidade impressionante, que está quase intacta. Não à toa, ele já recebeu vários outros apelidos durante a carreira, como "Papa-léguas", em referência ao famoso personagem dos desenhos animados, e "Sonic", da série de videogames.  

"Ganhei o apelido de 'Papa-léguas' e falavam que eu fazia até 'bip-bip' em campo (risos). Também me chamavam de 'Sonic', 'Raio alvinegro', entre outros. Eu ouvia muito dos zagueiros para eu pegar leve e ir mais devagar, mas eu respondia que precisava ganhar meu pão (risos)", contou Apodi, em entrevista à Rádio ESPN, em 2015. 

 Dos paralelepípedos aos campos 


 Apodi, que recebeu o mesmo nome da cidade em que nasceu no Rio Grande do Norte, começou a carreira no Real Salvador, da Bahia, clube forte nas categorias de base. Seu primeiro destaque foi em 2004, quando a equipe soteropolitana foi à Itália para disputar o troféu Angelo Dossena, contra Internazionale e Boca Juniors.


 O lateral "comeu a bola" e foi campeão, sendo convidado para um período de testes no clube de Milão. Após um mês, foi para o Porto, de Portugal, onde ficou por três meses. 

 "Eu via o treinos dos caras do profissional do Porto e ficava só admirando. Era o time que foi campeão da Liga dos Campeões, tinha o (José) Mourinho, Vítor Baía, Carlos Alberto... Eu morava no alojamento com os moleques da base, mas tinha muita vergonha de conversar. O [ex-lateral do Inter] Rubens Júnior era o capitão do time B e foi quem mais me ajudou. Acabei não ficando porque só podia ter dois estrangeiros lá e eu não tinha passaporte europeu, daí escolheram uns africanos", recordou. 

 Quando voltou da Europa, Apodi se viu sem clube para jogar no Brasil e ficou desiludido. Voltou para sua cidade natal e foi trabalhar fazendo paralelepípedos para uso em pavimentação das ruas junto com alguns parentes. 

 "A gente fazia compras no mercado e durante cinco dias íamos para o meio do mato cortar as pedras com uma marreta de 5 kg. Eu cortava uns 700 paralelepípedos por dia, era um dos que menos conseguia cortar, rendia só uns R$ 25, R$ 30 por dia. Trabalhávamos 15 dias até pegar o dinheiro. Como eu era o filho mais velho, precisava trabalhar para poder colocar comida em casa", narrou. 

 A bicicleta da sorte 

 A sorte lhe sorriu novamente quando um amigo lhe telefonou perguntando se ele não estaria interessado em fazer um teste no Vitória. O ala prontamente aceitou e foi aprovado, dando início à sua carreira profissional. No entanto, por muito pouco ele não chegou a nem viajar a Salvador por falta de dinheiro. Quem lhe salvou foi um tio. 

 "Eu queria muito ir pra Salvador, mas não tinha dinheiro. No entanto, um tio que tinha muito mais coragem do que eu vendeu a bicicleta dele por R$ 60 reais e me deu o dinheiro. Era a única coisa que ele tinha. Ele comprou a passagem só de ida para eu ir a Salvador. Fiz o teste no Vitória e passei", relatou. 

 "Meu tio foi uma das pessoas mais importantes da minha vida. Ele teve a coragem que ninguém mais tinha, nem eu. Jamais vou conseguir retribuir tudo o que ele fez por mim, mas uma das primeiras coisas que fiz como profissional foi dar uma bicicleta novinha e linda para ele (risos)", completou o lateral. 

 Garoto simples vindo do interior do Rio Grande do Norte, Apodi "sofreu" na mão dos companheiros de equipe em seu início no Vitória. Durante sua passagem pelo time rubro-negro, que durou até 2007, quando foi para o Cruzeiro, era vítima constante de bullying dos colegas e até dos técnicos, como na primeira vez em que viajou de avião. 
Moisés disputa jogada com Apodi durante o 0 a 0 entre Palmeiras e Chapecoense Ag Palmeiras
 "Sentei ao lado do técnico, que era o cara mais experiente e respeitável, e achei que não iam aprontar comigo. Então, a aeromoça chegou com uns papeis enrolados e ofereceu. O professor falou: 'Pode comer, é de graça e bom pra caramba!'. Comecei a mastigar, mas era guardanapo para limpar a mão (risos)! Todos começaram a rir, e as outras pessoas do avião me olhavam com cara de 'o que esse louco tá fazendo?'. Se fosse hoje em dia, estava ferrado, imagina as redes sociais ? Ia estar em tudo quando é lugar num segundo, Facebook, Twitter! Ainda bem que era diferente naquela época (risos)", gargalhou. 


  Depois, em sua passagem pelo Cruzeiro, chegou até a passar pela seleção brasileira olímpica sob o comando de Dunga, mas nunca conseguiu se firmar no clube mineiro. Foi emprestado para diversos clubes, deixando Belo Horizonte em 2013 para jogar no Ceará. Ainda atuou pelo Querétaro-MEX antes de sua passagem frustrada pelo Bastia-FRA, que seria sua primeira aventura no futebol europeu.

 "Quando ia fazer a minha estreia pelo Bastia, nosso técnico, que era o Makelele [ex-Real Madrid] falou que eu não podia jogar, porque o Querétaro não tinha mandado a liberação. Foi difícil, porque tinha o sonho de jogar na Europa", afirmou. 

 Em 2016, ele realizou o sonho, ao defender o Kuban Krasnodar, da Rússia. O lateral ainda defendeu Sport, Chapecoense, Ohoh (Arábia Saudita) até chegar ao CSA, em 2019.

Fonte ESPN 

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